Pular para o conteúdo principal

O FOGÃO A LENHA E A SERRAGEM - Assim, vou arrastando o saco de serragem pela rua muito vagarosamente. Algumas vezes acontece dele furar e fica uma trilha de serragem na rua




20º CAPÍTULO - O FOGÃO A LENHA E A SERRAGEM
O fogão a lenha de nossa casa não usa lenha. Isso mesmo, não usa lenha. Para ele funcionar a gente usa serragem. Serragem eh um pó que sai da madeira quando ela eh serrada. Na empresa onde meu pai trabalha tem a marcenaria que faz móvel. Eles trabalham o dia inteiro serrando madeira. Então acumula muita serragem. Na maioria das casas do nosso bairro, os moradores usam lenha no fogão a lenha. Poucos usam serragem como a gente. Essa serragem a gente tem que buscar nesta marcenaria, mas só podemos pegar serragem na sexta feira e depois que eles param de trabalhar. E só temos meia hora pra fazer isso.
Na sexta feira na hora do almoço meu pai já avisa para mim e mais dois irmãos meu que temos que buscar serragem. Não podemos esquecer de jeito nenhum, porque se não tiver serragem não tem como acender o fogão e a gente apanha muito do meu pai. Assim, quando a empresa onde meu pai trabalha apita avisando que faltam cinco minutos para encerrar o trabalho, saímos de casa com o saco para colocar a serragem. Como moramos quase em frente da marcenaria, não precisamos sair muito cedo. O saco de linhagem, eh assim que eles chamam esse saco feito de linha grossa e que a gente leva, eh o mesmo que vem com os sessenta quilos de arroz que minha mãe compra no armazém.
Meu pai guarda esses sacos de linhagem para buscar serragem mesmo. Para ir pegar a serragem a gente tem que esperar os funcionários saírem primeiro. Quando os funcionários saem, nós entramos e já olhamos o tamanho do monte de serragem. Eh mais alto que nossa casa. Meu pai já está lá esperando a gente. Meu pai eh que enche os sacos de serragem com uma pá e faz isso rapidinho. Depois dos sacos cheio de serragem, meu pai amarra a boca de todos eles com um cordão. São cinco sacos de serragem que a gente pega toda sexta feira. Depois que meu pai termina de encher os sacos de serragem e amarrar, ele pega um e coloca no ombro e pega outro e vai segurando ele com a mão e vai indo embora. A serragem não eh pesada, mas num saco de sessenta quilos pesa um pouco e fica difícil de carregar para quem eh pequeno ainda. Meus irmãos pega cada um o seu e vai indo embora. Eu não dou conta de colocar o saco de serragem no ombro e então vou arrastando e claro, fico para trás. E assim vou arrastando o saco de serragem pela rua muito vagarosamente. Algumas vezes acontece de o saco de linhagem furar e vai ficando uma trilha de serragem na rua.
Quando isso acontece meus irmãos chegam em casa e contam para meu pai. Eu fico tentando arrastar o saco de serragem e tapando o buraco ao mesmo tempo, dai nem saio do lugar. Meu pai chega, da um tapa na minha nuca e eu caio no chão. Então ele diz: Cabeça de bagre, não serve pra nada mesmo. Meu pai pega o saco com a serragem e leva pra casa. Mesmo eu arrastando o saco de serragem por não dar conta de carregar nos ombros ou nos braços, e com isso ele furando às vezes, meu pai sempre diz que eu tenho que ir buscar serragem toda sexta até eu aprender a fazer alguma coisa direito.

(O Último Filho) Baseado em fatos reais

Comentários

PÁGINAS MAIS VISTAS

EU E OS PASSARINHOS DO MEU PAI - Pensei que os passarinhos queriam sair da gaiola para dar uma volta. Então, abri a porta de todas as gaiolas e pedi que eles voltassem antes que meu pai chegue para o almoço

A PROMESSA - Minha história começou quando a empresa onde meu pai trabalha construiu uma capela em honra a Nossa Senhora da Conceição. Isso mesmo, quando uma capela foi construída

AS GALINHAS DE DOMINGO - Todos os domingos minha mãe faz galinha para o almoço. Meu pai corta a galinha em vinte pedaços, um para cada filho. Eu sempre fico com o pé da galinha

A TRAVESSIA - Eu não sei nadar. Meu irmão me colocou em seus ombros para atravessar o rio. No meio do rio começamos a afundar. Meu irmão conseguiu se salvar, mas eu não

VENDEDOR DE PICOLÉS - Peguei o carrinho com cinquenta picolés e fui para nosso bairro tentar vender lá. Parei em frente a nossa casa. Meus irmãos ficaram perguntando o que eu fazia ali. Eu dizia que estava vendendo picolé e se algum deles quisesse teria que pagar

AS COMPRAS NO ARMAZÉM - A empresa onde meu pai trabalha tem um armazém. Eh lá que meus pais faz as compras do mês. A gente vai com um carrinho de madeira para trazer as compras

O CASTIGO DE ANIVERSÁRIO - Minha mãe me pôs de castigo, meu pai não falou nada e meu irmão não conversa comigo

A GALINHA, OS PINTINHOS, A JABUTICABEIRA E O FLAMBOYANT - Meu pai tem um galinheiro com um monte de galinhas e vários pintinhos. A jabuticabeira está do meu tamanho e o Flamboyant da altura do muro

ENGRAXANDO SAPATOS - Eu ia para a cidade e ficava no cruzamento das duas principais ruas, porque ali passava a maioria das pessoas a pé. Muitos que queriam engraxar os sapatos não acreditavam que eu seria capaz de engraxar os sapatos deles direito

O FILHO CAÇULA - Ser o filho caçula tem lá suas vantagens. Recebem mais atenção dos pais, dos tios e avôs. Obviamente recebem mais presentes e de mais pessoas. Mas não numa família de 18 irmãos